Saturday, September 20

Blindness

A adaptação de Ensaio sobre a cegueira é antes de tudo um filme universal. Nos reconhecemos na tela, orientais, brancos, negros e latinos (mesmo que em papéis positivamente questionáveis), todos despidos de diferenças. Nas primeiras cenas encontramos nos figurantes rostos familiares, nos lugares sem nome percebemos uma cidade de todos nós. Esse não descrever físico e o não nomear adquiri todo um significado dentro do romance de Saramago e, ao mesmo tempo em que permitiu liberdade na adaptação, fez com que o olhar de Meirelles fosse permeado por uma inspiração cega.

Enquanto Saramago brinca com os sentidos das palavras ver e enxergar, o filme apresenta um jogo de tons escuros em contraste com a luminosidade da epidemia branca. Em alguns momentos, guiados pela câmera, somos levados a forçar a vista, abrir e fechar os olhos. Julianne Moore (a mulher do médico) está plena em cena. Por ser a única que vê, a personagem carrega um quê de divino, assim como um cristo que suporta a crucificação até que a última gota de sangue purifique os pecados dos filhos.

Independente da crítica, Meirelles acertou no tom ao suavizar a putrefação humana presente no romance, adicionando uma cena mais colorida aqui ou ali (como quando a personagem de Gael García Bernal, numa cena improvisada pelo ator, imita Stevie Wonder). É admirável ver a forma pela qual a fábula de Saramago foi recontada numa nova linguagem (aspecto que talvez só seja mais visível para quem leu o livro). Antes que eu me perca nas minhas cegas palavras, um filme para ver de olhos bem abertos.

Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness). Brasil, Japão, Canadá, 2008 - 120 min. Drama. Direção: Fernando Meirelles. Roteiro: Don McKellar, José Saramago (livro). Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover, Gael García Bernal, Sandra Oh, Don McKellar, Maury Chaykin, Yusuke Yseya, Yoshino Kimura.

2 comments:

  1. Oi,
    Eu já li o livro e assisti o filme.
    Confesso que os dois me cativaram por aspectos diferentes!
    O fato é que não tem muito como escolher um.Os dois são ótimos!
    Não tenho outras palavras para descrever o filme e o livro a não ser MARAVILHOSO!
    BJINHO

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  2. Achei o filme brilhante. O Meirelles se superou novamente.

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