
E se a perda de um dos sentidos fosse uma escolha? Pra mim, a visão seria a última opção, pois é com esses olhos que leio livros, olhos que lêem outros olhos, que lêem o mundo. Em Ensaio sobre a cegueira, as personagens de Saramago não têm direito de escolha, simplesmente vão cegando num piscar de olhos, vítimas confinadas de uma epidemia, a treva branca.
O leitor é guiado através da percepção da única personagem que entre os cegos vê, detentora da benção e castigo. Como leitores experimentamos uma perturbadora sensação, somos personagens temendo que o próximo branco não seja o da página. Saramago proporciona uma experiência de leitura única, um mergulho num luminoso horizonte no qual nos reconhecemos cegos e só enxergamos quando fechamos os olhos.
Ensaio sobre a cegueira pinta um quadro luminosamente sombrio do que se convencionou chamar de ser humano. O livro é uma grande metáfora duma sociedade cega diante de tudo que anseia ver, em suas páginas encontramos frases que servem como epígrafes colocadas sobre o túmulo das nossas verdades. Aqui até os santos perderam os olhos e o escritor, mesmo cego, brinca com as palavras. Ao ler a última página, quando todos já enxergavam, olhei pra dentro de mim: estava cego.
eu sou uma das pessoas que começou a ler o livro depois que viu o vídeo de saramago chorando ao ver o filme.
ReplyDeletedepois disto, chorei por mim mesmo vendo o trailer do filme. neste momento, o mesmo têm sido guia para minha própria visão de vida.
aproveitaremos melhor desde então.
(adicionarei o teu perfil na last.fm, tudo bem?)
demm charbak,
ReplyDeleteeu soltei lagriminhas quando vi o Saramago chorar...
Eu comecei a folhear esse livro uma vez. Tentei tomar coragem pra ler, mas era uma noite preguiçosa e encarar a escrita, digamos, diferenciada do Saramago nessa situação foi difícil. Mas quem sabe um dia.
ReplyDeleteEsse é um livro que está na minha fila de espera, mas está lá no finalzão (risos).
ReplyDeleteAbraço