Ele dobra a si mesmo, como uma folha de papel em branco preenchida de palavras rascunhadas. Ele se recorta, e o corte da tesoura segue traços que são de todos num só, ele. É aquele que, ao se desdobrar, não é a mesma figura repetida em seqüência. Nele, a percepção dos traços confere contornos diferentes às faces que, como máscaras, são recortes dum só.

Um dos aspectos mais fascinantes em blogar uma existência é delinear o limite entre o público e o privado. É o que há de mais admirável nas outras lixeiras que remexo, essa capacidade de se recortar, editando partes de você que são publicáveis ou não. Um viver inteiro não cabe aqui, nem todos as músicas ouvidas, filmes vistos e livros lidos, assim, prefiro a brevidade na descrição dos profiles. Persistir no contrário seria frustrante.
Os porquês de escrever isso ou aquilo são demasiadamente espaçosos para serem expostos. Faço a escolha por recortar os sintomas da enfermidade e não as causas, pois explicar é se comprometer. No entanto, acho que os meus porquês são mais do que legíveis para um olhar mais atento. Pouco importa perceber os motivos (triviais e tão humanos), mas as suas conseqüências. Como num teatro circense, não importa a dor do palhaço, mas o espetáculo.
Posso ser perceptível como X ou Y, ou uma mistura desses dois, mas não sou nenhum. Sou inacabado, como uma folha na mão de uma criança que tenta dar contornos arredondados para um retângulo de sulfite. Então, o que escrevo é uma colagem de palavras recortadas de alguém que se remolda, se reconta e se refaz. Ainda estou aprendendo (o auto-recorte) mas posso acreditar no que já sei.
sem contar que recortamos o que é publicavel sobre nós é excelente, sabemos os limites de exposição e fica ao nosso critério passar essa linha, ou não.
ReplyDeletea.d.o.r.e.i!
pra mais de metro.
hum, e quanto a minha falta de assunto, é aquela falta de assunto de algo postável... englobando isso que você acabou de dizer ;)
ReplyDeleteBelíssimo... Penso muito sobre isso... O que escrever, por que escrever ou não escrever... E sabe, toda opção é uma exclusão... Cada folha recortada faz com que outra nem seja ao menos tocada... E as coisas mais importantes ficam mesmo em OFF, pois essas não sabemos dizer ou descrever...
ReplyDeleteBom feriado, boa semana!
Gostei muito dessa postagem. E é isso mesmo, no mundo dos blogs (no mundo virtual, aliás), somos apenas recortes.
ReplyDeleteUma folha de sulfite em branco sem recortes não tem graça.
ReplyDeleteE isso não vale só para os blogs, mas para a vida.
Bela postagem Doug.
:)