Só agora tenho tempo para recolher as peças e ruminar as lembranças dos últimos três anos, os mais intensos até aqui...
Ingenuamente, numa tentativa de compreender o jogo da linguagem, optei pelo curso de Letras. Não sem dor, notei que as palavras constroem mitos e no estudo dos mais variados tipos humanos me vi como uma personagem.
O menino tímido e estranho foi burro de carga pseudo-intelectual carregando trabalho alheio; o rapazinho que fazia rir com suas frases de duplo sentido; o amigo conselheiro ou apenas aquele que, em silêncio, ouvia as lamentações do outro.
Individualista? Não sei. As tentativas de socialização trouxeram danos irreparáveis na construção. Só depois de ferido notei os significados ocultos no discurso e uma palavrinha chamada ideologia. Como num momento de epifania, gestos e palavras começaram a significar mais.
Então olho para o passado e leio o não-dito. Inevitavelmente as principais decepções se tornaram mais visíveis: os ex-possíveis amigos do primeiro emprego; o primeiro contato com o mundo adulto com as balzaquianas da faculdade e o olhar dos meus pais.
O papel de vítima não me atrai, carrego parte da culpa. O meu pecar está aqui, meu discurso tendencioso, minha percepção preconcebida, o meu lixo. O meu papel parece inclassificável porque não é um: o filho, o irmão, o colega, o amigo, o estudante, o “professor”, o cara estranho, em qual deles sou... menos pior?
Olho para o último ano surpreso por não ter sucumbido. Um irmão dando chiliques e tomando tarja preta por levar um pé na bunda da namorada (que era apaixonada por um padre); pequenos problemas de saúde que estão longe de acabar; o desencanto com o ensino e o arrependimento por ter “revelado” um segredo sob a pressão de um discurso de “amizade”.
Mas no final as pessoas certas apareceram e me ajudaram a carregar o fardo respeitando os limites delimitados. Não só do pão amassado pelo diabo vive o homem, pois em 2007 conheci Amélie (sim, ela mudou a minha vida!), ouvi ruídos não só da Morissette (isso inclui a minha descoberta de Björk, algumas de Corrine Bailey Rae e Kate Nash). Ganhei pela primeira vez uma promoção!
Mudanças serão bem-vindas. Estou revendo conceitos, alterando idéias e reescrevendo propósitos. Quero acreditar, alterar e, quem sabe, ousar um pouco mais. Posicionamentos serão tomados e supostas verdades serão ditas. Se eu cair junto os caquinhos e recomponho.
"Estou revendo conceitos, alterando idéias e reescrevendo propósitos." Isso é fundamental de tempos em tempos. E é a tal história, crescer é doloroso, não tem jeito. Mas o trajeto de descobertas (decepcionantes ou não) é delicioso, e faz valer a pena. Belo texto Doug. :)
ReplyDeleteDoug, eu tbém gostei muito do seu texto e nem sei bem o que comentar...
ReplyDeleteEu tenho esses momentos de auto-avaliação de vez em qdo; o que importa é isso, levantar e recolher os cacos, porque é assim que acontece o aprendizado.
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