Sunday, January 31

Unsaid

Do inverbalizável

Do ano findado eu ouvi a promessa de que seríamos felizes e, se não me falha a memória, algum advérbio intensificador como muito ou bastante foi anteposto a esse estado da alma que chamamos felicidade. Mas muito provavelmente eu tenha me esquecido de pontuar que promessas não me atraem, e que a verdade que sai doce da boca da terceira pessoa adquire em mim um gosto amargo. Mais uma vez faço a escolha pelo sonho, somente nesse nível de existência os meus anseios são realizáveis, pois superfícies que não dedilho já não me ferem os olhos.

Não são poucas as trivialidades que eu me debruçaria sobre, então não espere grandes fatos pormenorizados, escrevo sobre coisas pequenas, bem menores. Pereço de fatos concretos, do que há de palpável, aquilo que chamamos de fio da meada ­– que eu nem chego a perder pelo simples fato de covardemente não desenrolá-lo. É torturante a minha incapacidade de expressão num outro nível de linguagem, temo que seja palatável somente a nata do meu pensar, aquela camada superficial e sensível que fica por cima do liquido leitoso. Não seria isso o que difere aqueles do escrever ordinário dos autores do bem escrever?

Mas o que o vagar do pensamento não me permite pronunciar não diz respeito aos capítulos que deixei de escrever ou daquilo que não será escrito... falo sobre como as coisas adquiriram uma nova textura, de como eu as tenho percebido num outro timbre, e tudo que tenho visto, ouvido e sobretudo lido tem servido para fomentar essa vontade de não-sei-ainda-o-que. Pulsa algo de gutural, organismo que necessita ser nutrido... I’m talking about a revolution, right here.

ouvindo... Vagabond – Wolfmother

2 comments:

  1. Anonymous3.2.10

    há essa divisão do bem escrever e do escrever ordinário, mas hoje em dia quem vai decidir o que é bom e o que não é?

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  2. É bacana ler Nietzsche!

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