Dos diálogos improváveis
Ele: – Posso sentar? – indica o assento, com um olhar que desencorajava qualquer negativa.
Ele: – Com a condição de que seu único interesse seja a cadeira vazia, claro! – fingindo com êxito um falso desinteresse.
Ele: – E eu teria outro motivo que não esse, quando todas as outras mesas estão ocupadas? – aqui deixa escapar um sorriso no canto da boca que responde à própria interrogação.
Ele: – Eu realmente espero que tenha escolhido dividir essa mesa porque comer esse lanche em 15 minutos é o seu único objetivo.
Ele: – Nos próximos 15 minutos estarei com a boca cheia e não irei perturbá-lo.
Ele: – Garanto que é o melhor a se fazer, até porque não tenho muito que conversar com estranhos, a não ser falar sobre as mudanças climáticas.
Ele: – Acho que não somos tão estranhos assim...
Ele: – Sim, dia desses trocamos olhares na fila.
Ele: – Trocar olhares, hoje em dia já é algo tão significativo, não acha? Quando todos estão ocupados admirando o próprio umbigo.
Ele: – Talvez...
Ele: – Minhas relações têm sido tão fast and junk quanto esse hambúrguer – perde o olhar sobre a bandeja, como se experimentasse um sabor amargo entre os lábios. – É... já que somos quase amigos de infância, costumamos falar sobre...?
Ele: – Com estranhos eu falo sobre o tempo, com amigos divido o silêncio.
Eles: – ...
Então comem, dividindo o ruído do mastigar mútuo.
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