Pesquisando quem linka o meu blog, descobri isso aqui. Num primeiro momento achei o título da postagem não muito elogioso, mas no final “captei” a intenção e o porquê da citação. Toda tentativa de classificação dos tipos humanos é compreensível, mas não sou um completo “resistente saudosista”. Ok, só compro CD’s originais, sim! Não visto, mas super admiro a moda retrô. No entanto, tenho uma certa resistência em ouvir qualquer banda/artista LP (isso inclui Beatles) e não gosto de acumular tranqueiras. O motivo real da citação deve ter sido a visão saudosista da minha “angelical” infância e o choque inicial com a realidade atual do ensino público presentes na seguinte postagem (recuperada pelo serviço de RSS do orkut):
Acordando (04/2007)
Aos poucos o ar retorna, os olhos tentam cumprir sua função, mesmo que o ponto de luz continue fraco e bruxuleante... Devo ter deixado me levar pelo clima "café filosófico" do curso, esquecendo que a alternativa mais "provável" para os estudantes de Letras é a inseparável dupla giz e lousa, quero dizer, na prática as teorias de ensino e seus criadores parecem tão distantes da sala de aula e do universo limitado daquelas criaturinhas com tanta energia mal direcionada. Não vou me estender além desta postagem, o registro dessa nova experiência tem destino certo: o relatório de estágio.
Erro foi ter imaginado o comportamento dos alunos a partir do meu quando aluno do ensino fundamental, quase uma Hermione Granger de calças, mesmo que no meu caso o esforço sempre tenha sido maior do que a facilidade para aprender. Hoje nem os mais quietos são "tão quietos" assim. Para o meu espanto, algumas meninas são mais perigosamente indisciplinadas do que os meninos. Aos 19 anos já estou soltando a célebre expressão dos pais de todos nós: "Na minha época...". O preocupante é que a minha época quer dizer pouco menos de dois anos e meio atrás. Na minha antiga sexta série não havia nenhuma conversa com duplo sentido, profusão de palavrões e comportamento do tipo "filho de chocadeira" (mais uma expressão de origem materna).
O desafio diário de enfrentar por quatro horas as salas de aula é mais desgastante do que as oito horas do antigo emprego. Se antes concebia, por questão de educação familiar, a imagem do professor como autoridade a ser respeitada, agora tenho motivos suficientes para querer torcer a orelha dos alunos e soltar bons xingamentos quando vejo comportamento contrário. O que causa uma amplitude maior em todo essa história (além da minha mania de dramatizar) é que estou "lecionando" na escola onde estudei toda a minha vida e que fica a 5 minutos da minha casa, ou seja, não pense em andar pelo bairro sem ouvir um "Olha o professô!"
Nos primeiros dias tinha o objetivo de fugir da maneira tradicional das aulas, doce ilusão, impossível (ao menos por enquanto). Os alunos acham estranho quando você não passa o bendito texto na lousa e tenta realizar uma atividade não habitual, mas de qualquer forma e, em todos os casos, eles sempre reclamam. Apesar de tudo, a cada aula tento fazer com que minha voz se sobreponha aos berros escandalosos da Maria e aos palavrões do João. O que me dá esperança é que sinto que não irei me acomodar, todos os dias penso em formas de chamar a atenção dos capetas.
Ser professor eventual também não ajuda, ou melhor, professor substituto ou "prostituto", aquele que "só ganha" quando "dá". Explicando esse trocadilho maldoso, o professor eventualmente leciona, apenas quando algum professor com aulas próprias falta (o que não é raro no ensino público). Onde trabalho o conteúdo das aulas eventuais não faz parte do processo de avaliação, ou seja, o aluno faz o que quer e quando quer porque sabe que "o professor não vai dar nota mesmo". Lamentações de lado, estou tomando gosto pela coisa porque sempre há meia dúzia de alunos interessados que olham pra ti com respeito.
Tenho que esquecer que me sinto bem mais confortável na posição de estudante por não estar tão exposto, agora estou do outro lado, a palavra é "minha". Vejo que nesse ano vou precisar de alguns filmes como O Sorriso de Monalisa e rever todos os outros favoritos da lista mental, música também cai bem, chocolate e vinho para acompanhar um sonhador solitário. Sinto que vou permanecer o tempo necessário nisso, para o resto da vida seria limitador. Vou tentar fazer o serviço bem feito, por enquanto me sinto um mero copista de textos, mas sei que não suporto farsas por muito tempo.
Devo novas postagens sobre como anda a minha nobre “função de educador” depois da tormenta inicial. Ah, gostaria muito de conhecer os 10% dos saudosistas dos quais faço parte (risos).
é, soltou os demônios da frustração quando fez essa postagem? rs
ReplyDeleterealmente fácil não é. e agora, voltei a um estágio na minha vida que pensei (ai, como me engano!) ter superado. voltar as aulas com pessoas de outra época (ainda que sejam só alguns poucos anos) tem sido tão desgastante... dá vontade de matar todo mundo! rs
Não se preocupe Doug, eu já fui chamado pela alcunha de "tio sukita" aos 26 anos. (rs)
ReplyDeleteNão é necessariamente um saudosismo (quer dizer, na verdade é, mas não só isso), mas um traço da nossa personalidade romântica...
ReplyDeleteAcho que eu tinha comentado essa sua postagem, só não me lembro o que havia dito.
Cris,
ReplyDeleteEu acho que você tinha dito sobre uma vez que entrou numa sala e tinha um minininho cara de Harry Potter que foi um dos poucos alunos que se interessou pela aula...
É verdade!
ReplyDeleteDoug.
ReplyDeleteQuero te agradecer.
Hoje eu assisti Amelie Poulain.
Já haviam me indicado antes.
Também te vi comentar algumas vezes (na verdade várias vezes) sobre ela.
Seja por fotos, ou postagens.
Há uma identidade.
Há algo muito estranho que eu tenha visto um senhor enviar um video para ela dizendo: "Amelie, faça isso, pelo amor de Deus, ou seu coração ficará seco!"
A falta de palavras dela era a minha também...Ela dá três beijos, e pede o mesmo sem sequer abrir a boca.
Sabe o que perguntaram pra mim esses dias: "Por que você não fala o que você quer?"
Não sou ela, mas sei o que é fechar os olhos.
Vou tentar fazer uma comparação, talvez se você tenha lido meu blog vez ou outra, você possa estabelecer uma relação:
Eu pensava que na minha história o Luis - um cara que eu gostei muito - "foi" o Nino. (Fiz a comparação, tente estabelecer as correlações - risos)
E nesta mesma história, a "Amelie" ficou sozinha na estação, ela não abriu a porta da casa dela na cena final.
Mas o que mais me impressionou na minha história, foi descobrir que o coração dessa "Amelie" não secou depois disso.
E me impressionou mais ainda descobrir que talvez ele não tenha sido exatamente o Nino, mas um dos 2 primeiros namorados que ela teve nas primeiras cenas do filme...
Especialmente por que no bilhete que ele escreve pra ela na cena final, ele diz: "Eu vou voltar!".
A partir de hoje, tenha certeza que na minha história a Amelie vai abrir a porta e dar de cara com o Nino.
Talvez saia correndo de calcinha e jaqueta no inverno como a Bridget Jones atrás do Mark Darcy.
Neste momento, a "Amelie" sabe que não deve mais fazer pequenos gestos a fim de ajudar os outros ao seu redor.
Ela não é uma covarde, e talvez realmente exista lugar neste mundo para os sonhadores.
Me sinto aliviado, e agradeço por que mesmo indiretamente, agora eu sei que a minha história ainda não acabou.
Me chame de louco quantas vezes quiser, mas não há neurose obsessiva no mundo capaz de impedir a garra de "Amelie", "Bridget" ou "Maggie Carpenter" de aprender.
Abraço