
Anos atrás, como num momento de epifania, ao ler A hora da estrela fiquei com a certeza de que Clarice Lispector seria uma autora para releituras. Depois de ter estudado uma gota dum oceano literário, eu me sinto incapaz de enfrentar um texto seu, como se a leitura fosse guiada pela cegueira. O último livro que “li” foi Felicidade clandestina, uma reunião de 25 contos que falam sobre o desconforto das relações humanas, da meninice à morte. O primeiro conto (que dá título à obra) narra a estória de uma menina que promete à colega emprestar o livro As Reinações de Narizinho, porém, com “requinte de crueldade”, sempre arranja uma desculpa para negar o empréstimo; em O grande passeio, o envelhecer é retratado de forma perturbadora e poética; por sua estranheza e símbolos, uma das narrativas mais interessantes é O ovo e a galinha, na qual a autora, em mais de meia dúzia de páginas, cria uma divagação existencial sobre o ovo (impossível não relacionar com o clip Venus as a boy de Björk). Um livro para reler com a sensação de nunca ter lido.
Eu tenho uma dificuldade (falta de paciência) pra romances, mas me dou bem com contos. Parece ser interessante esse petardo da Lispector.
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